Home Notícias Filho de presidiário tem espaço lúdico

< >Jornal da Cidade – 22/10/2007

< >Projeto da Faag usa brincadeiras, livros e teatro para ‘ressocializar’ crianças que visitam pais na Penitenciária 2 de Bauru

< >Penitenciária 2 (P2) de Bauru, domingo de manhã: centenas de esposas, mães e filhos de presidiários aguardam o início do horário de visitação. A agitação é grande – afinal, o local abriga mais de 850 presos.

< >Alguns visitantes trazem consigo sacolas com alimentos, mas, em geral, a maioria dessas pessoas não tem sequer o que comer. São moradores de bairros carentes da periferia de Bauru e de outras grandes cidades do Estado, como São José do Rio Preto e Araçatuba.

< >Em meio ao burburinho, um grupo se destaca: são voluntários (alunos e professora) do “Brincando e Aprendendo”, projeto de pesquisa e extensão que a Faculdade de Agudos (Faag) vem desenvolvendo no local desde agosto deste ano.

< >Em 2004, a instituição já havia desenvolvido trabalho semelhante na P2, só que de maneira experimental. De agora em diante, os responsáveis pelo projeto pretendem transformar o “Brincando e Aprendendo” em uma iniciativa permanente.

< >Basicamente, o projeto consiste em um espaço lúdico instalado no interior da própria penitenciária. Ali, as crianças (filhos dos presos) assistem à teatros de fantoches e oficinas de contadores de histórias, lêem gibis e livros infantis e participam de brincadeiras variadas.

< >O número de freqüentadores do espaço costuma variar de domingo para domingo. “Pode ir de 30 a 40 crianças, dependendo da ocasião”, diz a professora do curso de pedagogia Eliane Zulian Delázari, coordenadora da brinquedoteca.

< >Embora relativamente novo (tem apenas dois meses), o projeto já mostra resultados positivos. De acordo com os organizadores, as crianças que participam assiduamente do “Brincando e Aprendendo” têm apresentado uma melhora no comportamento e no nível de aprendizagem.

< >“Garotos que tinham dificuldades para ler hoje já são capazes de reconhecer palavras”, garante Delázari. Os próprios filhos dos detentos confirmam as mudanças. Mateus, 11 anos, por exemplo, reconhece que, até alguns meses atrás, não era muito dado aos estudos.

< >“Mas depois que comecei a participar do projeto me tornei um aluno ótimo… excelente…”, gaba-se. Exagero? A mãe do “pequeno prodígio”, a empregada doméstica Maria, 34 anos, confirma a versão do filho. “Hoje ele está bem mais esforçado na escola do antes”, diz. Quando crescer, Mateus pretende entrar para o Exército.

< >Ressocialização

< >Para o agente penitenciário Carlos Augusto Martins Francisco, 43 anos, que cursa o 1.º ano de pedagogia na Faag, o “Brincando e Aprendendo” funciona como uma espécie de trabalho de ressocialização dos filhos dos presos.

< >“Nos dias de visitação, essas crianças passam o dia todo aqui (na P2) e convivem muito de perto com a rotina dos detentos. Querendo ou não, elas acabam absorvendo a cultura do presídio e começam a enxergar como normal aquilo que deveria ser visto como exceção “, explica.

< >Para Francisco, o projeto ajuda a mostrar o outro lado da sociedade às crianças. A iniciativa conta com apoio de diversas empresas da região, como o Grupo Lwart, a Advocacia HCosta, a Compomade e a Duratex.

< >Rodrigo Ferrari