Assessoria de Imprensa – 07/06/2007
Os esforços para a viabilização da educação inclusiva no Brasil têm de contemplar, fundamentalmente, a infra-estrutura do meio escolar. Caso contrário, o resultado pode ser inverso. É o que avalia a professora-doutora Emília Freitas de Lima, da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Em sua palestra, ministrada no terceiro dia da II Jornada Pedagógica da FAAG, ela destacou que a inclusão dos alunos deficientes depende de um conjunto de fatores, mas principalmente de uma adaptação e reorganização do atual cenário educacional do País. “A presença desses alunos (deficientes) em classes regulares, sem as condições necessárias, vai provocar uma exclusão efetiva, ou seja, um efeito contrário ao qual se espera”, ressalta. Para ela, os projetos do governo para efetivar a educação inclusiva ainda são tímidos e tendem a transferir toda a responsabilidade aos educadores. “São medidas precárias, dando a idéia de que toda a questão se resolve só com a atuação dos professores. É mais uma responsabilidade que os docentes adquirem, sem a contrapartida nas condições, nem de carreira, nem de salário, nem de estrutura”, acrescenta. A professora concedeu entrevista à assessoria de imprensa da FAAG. Confira algumas partes.
<>Na sua opinião, por que a educação inclusiva é relevante e controvertida?
Emília Freitas: Ela é relevante porque não existe educação que não seja inclusiva ao meu ver. Se a educação não for inclusiva, para mim, não é educação. E é controvertida porque não se tem receita de como fazer para que ela seja colocada em prática sem dúvidas. Outro ponto dessa controversa é que existem profissionais que defendem a inclusão de alunos deficientes em classes regulares e outros que entendem que não, necessariamente, essa inclusão deva acontecer, mas por conta da falta de condições adequadas ao funcionamento. A presença desses alunos (deficientes) em classes regulares, sem as condições necessárias, vai provocar não uma inclusão, mas uma exclusão efetiva. Portanto, trata-se de um assunto controvertido, tanto do ponto de vista da existência desse fenômeno nas escolas quanto de como orientar a formação dos profissionais para lidar com esses alunos deficientes.
<>Como a senhora analisa as políticas públicas em prol a esse projeto?
Emília Freitas: Muito precárias. Elas dão a idéia de que toda questão se resolve apenas com a atuação dos professores. É mais uma responsabilidade que os docentes adquirem sem a contrapartida nas condições, nem de carreira, salário e de adequação da infra-estrutura escolar. A parte que competiria ao governo fazer, ele não faz, mas passa a responsabilidade aos professores.
<>A senhora acredita que não é possível tratar de educação inclusiva dentro dos quatro anos de duração do curso de pedagogia.
Emília Freitas: É verdade. Se for para lidar com necessidades educacionais especiais e específicas, a formação inicial não dá conta de resolver. É algo que tem de ser completado ao longo da carreira, com formação continuada e profissionais auxiliares aos professores das classes regulares.
<>A senhora defende muito a atitude inclusiva do professor. <>O quê quer dizer com isso?
Emília Freitas: A atitude inclusiva a que eu me refiro tem a ver com a aposta que os professores têm de fazer de que todos os alunos podem e devem aprender, que eles têm condições de aprender.
<>Hoje, os professores fazem essa aposta?
Emília Freitas: Acredito que não. Porque se fizessem, realmente a história da educação inclusiva seria outra. Em geral, isso não acontece.
<>A senhora acredita que os professores estão interessados em saber sobre educação inclusiva?
Emília Freitas: Não sei se os professores estão interessados no assunto para lidar com o deficiente em sala de aula. Sei que eles estão muito assustados.
<>E isso é um sinal de quê?
Emília Freitas: De que eles não estão sentindo amparo e apoio nessa tarefa que é tão difícil e complicada. Eles estão se sentindo sozinhos, sem as necessárias capacitação e condição para isso.
<>Qual aspecto que o governo deveria contemplar fundamentalmente para que a educação inclusiva possa se efetivar na educação brasileira?
Emília Freitas: Do ponto de vista do ensino em si, deixando de lado as condições materiais da escola, não se faz educação inclusiva sem gastar dinheiro. E gastar dinheiro implica ter pessoal especializado.
<>Em vista do cenário de falência que se encontra a educação brasileira, o que faz a senhora acreditar na efetivação da inclusão?
Emília Freitas: Acredito que se não houver esperança, melhor a gente cruzar os braços. Em segundo lugar, vejo que essa tal falência, tão proclamada, é mais uma arma para não investir.
<>A senhora acredita que o professor tem preconceito contra o deficiente?
Emília Freitas: Acredito, mas não só contra os deficientes, mas contra todos os alunos que saiam de um padrão constituído e instituído. E esse padrão corresponde ao aluno que é rápido, branco, inteligente, quieto, de boa família, de classe média, limpo, bem arrumadinho, bem vestido. Fugiu disso, não interessa.
<>Qual a perspectiva da senhora para a educação inclusiva no Brasil?
Emília Freitas: Dentro dos próximos anos não é muito animadora. Não estou vendo as políticas se conduzirem para uma direção que, em curto prazo, possamos ter alguma coisa se efetivando. Precisamos de mais líderes, inclusive políticos, brigando por esta causa.
Lucien Luiz
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Emilia Freitas de Lima: professora-doutora pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) |