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Assessoria de Imprensa – 05/06/2007

O assunto é polêmico e ainda não dispõe da atenção necessária do governo para se efetivar nas escolas brasileiras. A educação inclusiva, tema da II Jornada Pedagógica da Faculdade de Agudos (FAAG), carece de investimentos para a adaptação dos prédios escolares, adequação do sistema pedagógico e capacitação dos professores. Essa foi a bandeira defendida pelo professor-doutor Eduardo José Manzini, da Universidade Estadual Paulista (Unesp) de Marília, que abriu o ciclo de palestras da jornada, na noite da última segunda-feira. “A educação inclusiva precisa de investimento para adequar o ambiente escolar às necessidades dos alunos especiais. Os professores também precisam se preparar. Estamos caminhando para isso, mas o Brasil ainda está muito atrasado em comparação com outros países”, comenta Manzini. Apesar de todos os entraves, o professor é otimista e acredita que a inclusão, mais cedo ou mais tarde, ocorrerá no ensino brasileiro. Em entrevista à assessoria de imprensa da FAAG, Manzini ressaltou suas opiniões e perspectivas sobre o tema. Confira os principais trechos.

O que faz o sr. acreditar na real efetivação da educação inclusiva no Brasil?
Manzini:
A educação inclusiva só será efetivada, de fato, se tivermos uma política de ensino para alunos com ou sem deficiência. E vejo que a política está caminhando para isso. O governo federal está dando grandes passos no sentido de dar diretrizes básicas para a educação inclusiva. Temos hoje um planejamento, diferentemente dos anos anteriores.

Qual aspecto o sr. destacaria nesse plano?
Manzini:
Principalmente o investimento nas classes multifuncionais (salas especiais com recursos tecnológicos e pedagógicos). Antes, se falava em educação inclusiva e fechamento de serviços. Hoje, se fala em educação inclusiva e investimento em serviço. Acho que isso é um indicativo da existência de uma política para que as coisas aconteçam.

As classes multifuncionais são fundamentais nesse contexto?
Manzini:
Essas salas serão um apoio à escola comum. O aluno vai estar matriculado na classe comum, mas poderá usar os recursos de ensino da sala multifuncional quando for preciso. Esses materiais serão usados na sala comum, entre os demais alunos.

Qualquer estudante, independentemente da deficiência, poderá ser matriculado no ensino normal?
Manzini:
Existe uma legislação que já garante esse direito. O estudante que tem entre 6 e 14 anos pode ser matriculado, a Lei de Diretrizes e Bases (LDB) faz essa garantia. 

Então, as escolas precisarão de professores capacitados em educação especial?
Manzini:
Elas precisarão requisitar o serviço para o governo. As escolas terão de se mexer também.

Mas o governo dispõe de profissionais para esse serviço?
Manzini:
Sim. Hoje existem vários profissionais formados. O Paraná fez uma contratação de 800 professores e São Paulo está fazendo a preparação desses educadores. Os investimentos estão começando a aparecer agora.

O sr. acredita que os professores conhecem o significado e a necessidade da educação inclusiva?
Manzini:
Hoje, quando se fala em educação inclusiva, qualquer professor sabe do que se trata. Já faz 12 anos que falamos desse assunto.

Mas hoje, principalmente na rede pública, existem muitos professores descompromissados com o ensino. Esse aspecto não pode afetar o processo da educação inclusiva?
Manzini:
Profissional omisso tem em qualquer profissão. A educação inclusiva não necessita de um professor diferente, mas de um bom professor, que saiba ensinar tanto o aluno deficiente quanto o não deficiente. Hoje, a repetência e a evasão são mazelas comuns na escola pública brasileira. Trata-se de um problema do aluno? Acredito que não. É uma deficiência do sistema de ensino, não apenas do professor.

Mas existe o interesse do professor pelo tema?
Manzini:
Não se trata de interesse pelo tema. Temos uma lei que garante toda criança na escola. A política que está faltando é a de oferecer às instituições de ensino todos os recursos necessários ao aluno com deficiência.

E as faculdades, estão aptas a preparar o professor para a educação inclusiva?
Manzini:
Não se trata de uma questão específica da faculdade. Acho que o sistema de ensino, considerando-se o infantil, fundamental, médio e superior, tem de mudar. Percebemos que as faculdades, principalmente as particulares – que têm mais flexibilidade – estão mudando seus currículos. Elas estão encontrando várias disciplinas para trabalhar com a questão da deficiência no currículo dos cursos de pedagogia. Por outro lado, temos as leis também. Por exemplo, o ensino de libras tem cinco anos para ser incluído na grade de todas as licenciaturas.

O Brasil está atrasado na educação inclusiva?
Manzini:
Está. Frente aos países desenvolvidos, bastante atrasado. No entanto, não podemos esquecer do nosso histórico. Nesses 12 últimos anos, muitas coisas foram feitas, principalmente se a gente olhar o trabalho da Secretaria de Educação Especial. Independente de governo, se formos olhar o que foi produzido de material, foi uma coisa que nunca tivemos. E tudo online, tudo de graça. Então, o professor tem de começar a se atualizar por si só, a buscar os livros novos publicados todos os meses. É por isso que falo que a responsabilidade é da Federação, Estado, Município, mas também do professor. Não podemos só ficar culpando o governo.

O aluno deficiente corre o risco de ser discriminado pelos colegas de escola que não são portadores de deficiência?
Manzini:
Não. Esta é uma questão que se colocava há 15 anos. Temos pesquisas que mostram que isso não acontece. Quando a criança surda vai para a escola, ela ensina libras para os amiguinhos ouvintes. É a questão da socialização. Por isso, não vejo nenhum empecilho.

Em qual região do País a educação inclusiva está mais próxima do ideal?
Manzini:
No Estado do Mato-Grosso do Sul. Lá, as salas de aula são preenchidas com até 20 alunos quando um portador de deficiência é matriculado na classe normal. Isso ainda não acontece no Estado de São Paulo.

Quais são as vantagens desse limite de demanda na sala de aula?
Manzini:
O professor tem tempo para planejar o ensino. Seria muito bom que os nossos filhos fossem ensinados em classes com até 20 alunos em vez de 40. No entanto, isso não ocorre atualmente porque não temos um sistema de ensino que assegure isso. As instituições não têm espaço físico, não têm investimento.

O sr. acredita que a inclusão nas escolas brasileiras ocorrerá em breve?
Manzini:
Ela só se efetivará a longo prazo. Vai depender muito das leis que saírem daqui para frente e do que for exigido das escolas. Pode levar 10, 15, 20 anos. Ela está acontecendo e é possível sim. Mas, volto a dizer, é preciso de políticas de investimento. Acredito que estamos caminhando para isso.

Lucien Luiz 

Eduardo Manzini, professor-doutor da Unesp de Marília