Home Notícias Você ja diagnosticou um aluno hoje?

Agudos – 22/05/2007 – Jornal da Cidade de Agudos

Temos complexos mecanismos de catalogar coisas e pessoas para torná-las conhecidas. Podemos classificar tudo por adjetivos. E assim temos bons amigos que procuramos em momentos difíceis, amigos fofoqueiros que procuramos sempre, amigos bem colocados no mercado que fazemos questão de manter contato. Temos músicas para rir, para a copa do mundo, para chorar…

Professores tem alunos. Óbvio. E catalogam esses alunos? Certamente. Como? Também por adjetivos. Na falta de perspicácia e sensibilidade, nos trancos e barrancos da escola surgem gênios, puxa-sacos, rebeldes, drogadinhos, marginais, gays, lésbicas, ladrões, traficantes e em cada vez menor número: estudantes. E atrás desses adjetivos somem a infância, os problemas típicos da adolescência, a brutalidade da imposição de padrões de beleza, de riqueza…

Percebem como o classificar um aluno é um ato muito, muito sério? Desse processo de adjetivação depreende-se outro muito importante que é o da constituição da auto-imagem escolar, da auto-imagem social de cada aluno. Ou seja, de nossa catalogação de professor depende em grande parte o conceito que o aluno tem de si mesmo enquanto estudante, enquanto ser aprendente, enquanto gente.

E aí coloco a questão da prudência. Ensinamento antigo o da prudência… E em resumo lhes explico o porque da valorização dessa virtude.

Porque conheço várias crianças e jovens. Muitas mesmo. Nenhuma me revela sinal de problemas. Sei que os Lucas costumam ser terríveis, as Gabrielas birrentas… mas não conheço nenhuma criança com “depressão profunda” apenas algumas mais mal-humoradinhas. Também não conheço nenhum adolescente com DDA (déficit de atenção) incontrolável, apenas com a desorganização e avoamento típicos da adolescência. E hiperatividade… Deixa pra lá…

E conheço ainda muita criança simplesmente criança daquelas que no meu tempo de infância eram simplesmente elétricas, sempre com pernas roxas e galos na cabeça o que é no fundo sinal de saúde.

Tenho inclusive um primo cuja fama tornou-se perpétua em nossa família. Foi o único caso registrado de um primo cujos pais procuraram a medicina. Que não descobriu nada além de energia em excesso e um pouco de dificuldade em respeitar limites. E cujos professores taxaram, abandonaram, tornaram um fracasso escolar ambulante e pior, contaminante!

Não estou em hipótese alguma recusando a existência do DDA, do TDHA (Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade), da hiperatividade, da depressão, do TOC (transtorno obssessivo-compulsivo) ou o que for. Inclusive tenho lido muito a respeito e sugiro que façam o mesmo.

Apenas estou considerando a banalidade com a qual definimos nossos alunos, nossas crianças, nosso futuro. Apenas estou alertando para um processo. O do conhecimento do ser humano. O saber ou procurar saber quais as qualidades e defeitos que cada um tem. Qualidades e defeitos dos alunos que nos chegam todas as manhãs, tardes e noites. Dos filhos que geramos no útero ou no coração.

Apenas alerto para que não utilizemos nomes e palavras pesada demais como “deprimida” ou “Obssessivo-compulsivo” para substituir “meu jovem”, “moleque”, Joãos e Alessandras (e aqui entra aquela prudência). Apenas alerto para o fato de que de perto todos temos alguma loucura ou mania.

Todos saem perdendo quando esses nomes, adjetivos são dados assim a esmo. Os pobres adjetivados se perdem tanto, que não chegam a saber quem são ou como são se não procurarem no google ou nas enciclopédias suas características psicológicas. Chegam a creditar que só remédios podem lhe capacitar a pensar, a aprender, a se socializar.

Os pais perdem a oportunidade de amarem seus filhos como são. Perdem a magia de relembrar tempos depois altas traquinagens. Perdem a chance de conhecerem seus filhos verdadeiros “avoadinhos”, “elétricos”, “birrentos”… Pois querem filhos de comercial de margarina. Sempre limpos, sorridentes e inteligentíssimos como aquele que pede brócolis num comercial sei lá do que.

E nós professores perdemos a chance de aprender. Perdemos a chance de ajudar a construir pessoas saudáveis e felizes. Livres de estereótipos que lhes ceifem as oportunidades. Perdemos a chance de sermos dignos de sermos classificados de mestres, educadores. Amigos.

Você já deu algum diagnóstico hoje. Sugiro que diagnostique casos de criatividade, sapequice e inteligência.

OBS* Pros curiosos… Meu primo felizmente esqueceu tantos diagnósticos. Hoje é casado, feliz, tem duas filhas e para minha admiração e alegria voltou a estudar!

Juliana Araújo