Jornal da Cidade – 16/09/2007 – Luiz Galano
Na manhã de ontem, 12 deficientes auditivos deram as primeiras cavalgadas rumo a um futuro que poderá ser de glória. Eles tiveram o primeiro contato com o hipismo rural no centro de treinamento Team Horse, fazenda situada ao lado do cartódromo Toca da Coruja, em Bauru. A intenção do grupo que idealizou a atividade é dar seqüência ao ciclo de aprendizagem e, quem sabe, patrocinar um futuro competidor.
A iniciativa faz parte de uma parceria formada entre a Faculdade de Agudos (Faag), instituição que mantém há um ano o projeto “Mãos que Falam” – do qual fazem parte os deficientes em treinamento-, e o Núcleo Bauruense do Cavalo Quarto de Milha (NBQM). Além de possivelmente formar um futuro esportista, a intenção dos coordenadores das atividades também agilizar o processo de socialização e aprendizagem desenvolvido com esses jovens.
Às 9h30 da manhã, logo na chegada, os participantes do grupo já demonstravam, em gestos e olhares, o entusiasmo com a novidade (muitos deles nunca tinham tido contato com cavalos). Um pouco receosos, eles visitaram as baias de descanso dos animais, fizeram carinho nos cavalos e até os alimentaram. Nessa etapa, apenas alguns sustos com os movimentos mais bruscos dos quarto de milha.
Passado o período de reconhecimento, todos foram à pista de prova. Um a um, esses jovens acostumados a cuidados excessivos da família e até mesmo à exclusão das atividades de interação social, subiram na cela e sentiram o prazer de estarem livres e no comando.
Galope
A simbiose foi tamanha que muitos deles repetiram por várias vezes o passeio. Alguns até mesmo se destacaram no galope. Mas nada de mais, já que os cavalos eram guiados por um treinador para impedir acidentes, já que são preparados para provas de velocidade e podem sair em disparada a qualquer movimento mais brusco do cavaleiro.
Carolina Gonçalves, 17 anos, já havia montado a cavalo anteriormente, algo que não fez a atividade perder a “magia”. Uma intérprete revelou o que a estudante sentiu. “Gostei muito, o cavalo é manso e quero andar mais”, afirma a garota. “Com certeza vou querer voltar”, completa.
Segundo a coordenadora do projeto “Mãos que Falam” e também do setor de pesquisa e extensão da Faag, Márcia Vazzoler, a atividade não deixa de ser uma verdadeira terapia para as crianças.
“Antes de iniciarmos o trabalho com eles, há cerca de um ano, esses jovens se negavam a sair de casa e se socializar. Ocorre algo parecido a um turista que chega num país desconhecido, de língua diferente e evita sair de casa para não ter que se comunicar. A Carol (Carolina Gonçalves), por exemplo, se excluía de atividades e até mesmo de visitas que chegavam em sua casa. Agora ela se relaciona com o mundo e tem até namorado”, revela.
“Com certeza a atividade de hoje também será muito produtiva para o desenvolvimento deles”, completa Márcia.
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Terapia e futuro
A vice-presidente do Núcleo Bauruense do Cavalo Quarto de Milha (NBQM), Helena Herweg, destaca a ligação dos jovens com os cavalos. “A relação da criança com o cavalo é muito rica. Parece que um sente melhor o outro, entendem melhor as reações. E com pessoas deficientes, que desenvolvem outras habilidades, essa afinidade parece ser ainda maior. É uma simbiose excelente”, resume.
Já para a presidente do NBQM, Paola Daré, a intenção é dar continuidade aos treinamentos das crianças visando o futuro delas. “Hoje é uma iniciação, o primeiro contato e a apresentação das provas seis balizas e três tambores”, explica. “A intenção é montar um calendário em conjunto com a Faag e tornar a atividade periódica”, completa.
<>Segundo ela, se uma das crianças do grupo se destacar e tiver interesse em seguir no esporte, a associação dará total apoio nos treinamentos e competições. “O meu maior prazer vai ser colocar uma dessas crianças um dia em competição”, afirma a presidente do NBQM.